Artigo publicado no jornal Diário da Manhã — 16 de maio de 2014
Wilder Morais
Confesso que estou um tanto assustado com a rotina administrativa na iniciativa pública, que é lenta e quase sempre realizada de improviso. Muitas obras são iniciadas sem que os órgãos que emitem licenças ambientais tenham expedido documento permitindo a construção delas.
Essa minha estranheza acontece porque venho da iniciativa privada, onde a rotina é acelerada, onde uma obra iniciada tem de ser concluída dentro do prazo estabelecido, visto que o tempo é algo muito valioso e o atraso sempre acarreta prejuízos. Prejuízos estes que, na iniciativa pública, não são arcados pelos agentes públicos, mas sim pelo povo.
Enquanto senador, tenho me manifestado constantemente nos veículos de comunicação e também nas redes sociais sobre a lentidão e o improviso da iniciativa pública, bem como me manifestado contra a burocracia excessiva existente no Brasil. Na verdade, tenho direcionado minhas críticas aos três grandes vilões do custo Brasil, os quais são os responsáveis pelo impedimento de o Brasil obter competitividade no mercado internacional: carga tributária, burocracia excessiva e carência de infraestrutura.
Na última semana, estive na Valec — Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. e fui recebido pelos diretores de Engenharia — Mário Rodrigues — e de Operações — Bento José de Lima. Motivado pela minha preocupação com andamento da obra da Ferrovia Norte-Sul, iniciada em 1987 e até hoje não foi concluída, fui ao órgão pedir informação sobre o seu término. Os diretores, muito atenciosos, não me apontaram uma data específica, mas me disseram que a conclusão é coisa de dias.
É inconcebível que uma obra tão estratégica economicamente para o desenvolvimento do País, mas essencialmente para a Região Centro-Oeste, ainda não esteja terminada. Esse longo arrastar na conclusão da Ferrovia Norte-Sul está impedindo que a Região Centro-Oeste obtenha ganhos econômicos significativos em logística.
É urgente a conclusão da respectiva obra. Não há como a Região Centro-Oeste alcançar competitividade escoando suas mercadorias pelo modal rodoviário, que percorre longas distâncias, muitas vezes chegando ao seu destino com atraso e a um custo bem mais elevado. Fato que, com certeza, não ocorrerá no modal ferroviário.
Essa lentidão e a falta de planejamento estratégico do governo federal são desastrosas para o desenvolvimento do País. O essencial, infelizmente, tem sido colocado em segundo plano. O governo está mais atento às ações secundárias, no caso reformas de estádios, perdão a dívidas de países africanos, e junto a isso a compra de empresa petrolífera no exterior, no caso refinaria de Pasadena, a um preço muito maior do que ela realmente vale. Fato este que será investigado por uma CPMI, que envolve deputados e senadores, entre os quais me incluo. Essas transações enormemente desvantajosas ao Brasil é um grande desrespeito para com o dinheiro do povo, que muito tem sido penalizado com uma carga elevada de impostos sobre seus ombros e (o que é pior) com um retorno social bem abaixo do que pagam de tributos.
O essencial a ser feito pelo governo é ele enfrentar os três vilões do custo do Brasil mencionados anteriormente, o que só será possível se houver uma nova engenharia econômica em sua administração. Se for competitivo no mercado internacional, isso resultará em mais desenvolvimento para o Brasil, e junto ao desenvolvimento vem a geração de riqueza, que, por sua vez, gera trabalho, que, consequentemente, promove o bem-estar social.
O Brasil está com a faca e o queijo na mão, mas, infelizmente, anda comendo a faca, porque os homens públicos que o governam estão priorizando mais as ações secundárias do que as essenciais.
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