WILDER
MORAIS

Engenheiro e
Empreendedor goiano

Goiás não pode ter seu desenvolvimento engessado

Artigo publicado no jornal Diário da Manhã — 03 de novembro de 2013

Wilder Morais

A solução para se definir a mudança na alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de operações interestaduais deve ser buscada em ações guiadas pelo bom senso, pois assim o País chegará a um acordo equilibrado e justo.

A solução política dificilmente terá os olhos voltados à realidade socioeconômica de cada região, que é marcada por muitos contrastes. Tanto que até a imprensa nacional, em relação à mudança da alíquota do ICMS, define os dois lados em confronto em “estados ricos” e “estados emergentes”. E isso realmente procede.

Se formos observar o percentual de participação dos estados no PIB brasileiro, constataremos que os das regiões Sul e Sudoeste participam com quase 80%. Apenas São Paulo, só para se ter uma ideia, concentra 33,1%. Percentual este que ultrapassa (e muito) o índice dos estados das regiões Centro-Oeste, Norte, Nordeste e Espírito Santo, que não chega a 20%, mesmo tais estados se valendo da política de incentivos fiscais.

Goiás, por exemplo, só conseguiu mudar o seu perfil econômico, concentrado no setor agrícola e exportação de matéria-prima básica, porque pôde se valer dos incentivos fiscais de modo inteligente. E assim lhe foi possível ampliar seu leque de atividades com a atração de indústrias alimentícias e farmoquímica e também nos setores, mineral, automobilístico e tecnológico. Outro aspecto a se ressaltar sobre Goiás: ele teve o seu PIB com a maior elevação do País em 2012: chegou a 3,8%, enquanto o do Brasil no mesmo período foi de 0,9%.

A criação de fundos de compensação de receita e de desenvolvimento regional para compensar a mudança na alíquota do ICMS de operações interestaduais é uma solução abstrata, é uma solução meramente de papel. E não podemos nos esquecer da Lei Complementar nº 87, mais conhecida como Lei Kandir, criada em setembro de 1996 para desonerar do ICMS os produtos (primários e industrializados semielaborados) e serviços exportados.

Até hoje tal lei gera reclamações, isso por não compensar satisfatoriamente os estados em suas perdas. Vale ressaltar que a PEC 190/2012, apresentada pelo deputado Sandro Mabel e já assinada por 216 deputados, visa justamente à criação do Fundo de Compensação da Lei Kandir, que tem como teto as perdas dos estados. Perdas estas, conforme cálculo do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que chegaram a aproximadamente R$ 21 bilhões em 2011.

A mudança na alíquota do ICMS é uma ação fatiada, uma ação menor. A verdadeiramente necessária é, sem dúvida, a reforma tributária ampla, que abranja também as receitas do governo federal. Reforma esta que corrija a grande concentração de renda nas mãos da União, que fica com 72% do bolo, cabendo aos estados e municípios 28%, tocando, portanto, a cada um 14%.

Essa partilha de recursos que temos atualmente é injusta, e, consequentemente obriga estados e municípios a ficarem constantemente com o pires nas mãos à espera da boa vontade do governo federal. Isso não é justo, não é uma ação equilibrada. Faz-se necessário que a esses entes federativos seja destinado um volume de recursos à altura de suas necessidades, observando que os problemas da população ocorrem nos estados e municípios, portanto muito longe dos gabinetes de Brasília.

O fim dos incentivos fiscais representará milhões de desempregados nos estados emergentes. Isso significará um transtorno socioeconômico de grandes proporções. Com o fim dos empregos, os trabalhadores vão embora para os estados do Sul e Sudeste, como era tão comum algumas décadas atrás, quando as indústrias se concentravam nas regiões Sul e Sudeste.

Não quero que Goiás, meu estado, seja condenado a uma situação econômica de engessamento, sem condições de oferecer milhares de empregos e assim propiciar maior qualidade de vida à sua população. Não quero também essa situação de retrocesso para os estados das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Espírito Santo.

Os fundos compensativos “podem” resolver a perda de receita dos estados emergentes, mas eles certamente não assegurarão o emprego de milhões de trabalhadores, que certamente vão ficar na rua da amargura, sem como oferecer uma vida digna às suas famílias.

Compartilhe esta notícia

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on print
Share on email

Wilder Morais

Engenheiro e
Empreendedor goiano

WhatsApp

62 9 9981-2022

E-mail

contato@wildermorais.com.br