Artigo publicado no jornal Diário da Manhã — 2 de junho de 2014
Wilder Morais
Osvaldo Ruz Baldi, aquele pai que, no dia 13 do mês passado em São Paulo, tirou seu filho de 16 anos de uma manifestação contra a Copa, disse algo muito acertado em entrevista que concedeu à Globo News após o respectivo episódio: “De rosto tampado, não é manifestação. Se você está defendendo uma causa, você tem que mostrar o seu rosto, a sua cara”.
Em meio ao protesto, o pai arrancou a máscara do filho e o mandou trabalhar e ganhar o próprio dinheiro para depois então ter o seu direito de protestar. Assim como esse jovem paulista, deve haver milhares de outros, que estão no meio dos protestos mais como diversão do que com finalidade engajada propriamente. Não podemos chamar essas manifestações violentas de movimento político, pois movimento político tem causa, tem uma bandeira. Essa violência a guiar as ações dos destruidores de patrimônio são descabidas para o momento político em que vivemos, o qual exige ações das ideias. Ainda bem que os atos de violência durantes as manifestações nos dias de jogos do Brasil cessaram. Tomara que continue e assim o patrimônio público e privado seja poupado da fúria dos vândalos.
Algumas décadas atrás, o Brasil viveu um sistema repressivo muito violento, em que a liberdade de expressão era algo proibido e quem ousasse fugir à regra era punido severamente (muitos inclusive pagaram com a vida pela “desobediência”), mas mesmo assim os protestos eram realizados corajosamente: de peito aberto, os manifestantes não se escondiam atrás de máscaras, nem saíam pelas ruas, raivosos, destruindo tudo e até chutando a própria sombra.
Naquela época, os protestos tinham um alvo. O que se buscava era o fim da ditadura, lutava-se pela volta da liberdade de expressão. Os manifestantes lutavam pelo direito de escolher os seus representantes políticos do Executivo. E o que buscavam felizmente aconteceu. E nós estamos vivenciando aquilo pelo qual eles lutaram. Muitos manifestantes, sobretudo os vândalos, certamente devem desconhecer esse momento violento vivido pelo povo brasileiro.
É mais do que certo protestar contra a ausência de políticas públicas para combater os vários males sociais, que vêm sufocando a população sem que o poder público tome alguma iniciativa realmente eficaz.
Mas isso tem de ser feito de modo sensato, sem recorrer ao argumento violento dos braços e dos pés. Melhor que destruir bens privados e públicos, cuja reparação sai do bolso dos destruidores e também do bolso de quem não cometeu a destruição, é fazer um descarte eleitoral dos homens públicos que estão no poder sem fazer jus aos votos recebidos para representar o povo.
Parte da população parece se esquecer que os políticos que estão gerando os protestos chegaram ao poder por meio do voto dela. O ato de votar é uma arma poderosa do eleitor. Quebrar carros e lojas, incendiar lixeiras não vai dar fim aos problemas sociais que estão gerando as manifestações. Xingar a presidente Dilma de maneira obscena como aconteceu no jogo de abertura da Copa, entre o Brasil e a Croácia, realizado dia 12 do mês passado, além de ser um gesto de desrespeito, também não vai resolver nada.
Violência e palavrão são argumentos de gente sem bom senso. E o bom senso mostra que a eficiência punitiva do povo aos políticos ruins está num simples toque nas teclas das urnas eleitorais: eliminando-os da vida pública.
Fotografia: El País
Compartilhe:
- Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Tumblr(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no LinkedIn(abre em nova janela)
- Clique para enviar um link por e-mail para um amigo(abre em nova janela)
- Clique para imprimir(abre em nova janela)