Artigo publicado no jornal Diário da Manhã — 19 de dezembro de 2014

Wilder Morais

Desde que me entendo por gente, eu nunca tinha visto um governo federal mais cheio de escândalos administrativos que o atual. Governo este que tem feito o Brasil viver uma fase de corrupção sem paralelo em sua história. Fato que representa uma nódoa desastrosa à imagem do país, visto que está repercutindo internacionalmente, bem como representa um desastre de grandes proporções aos cofres públicos e à vida econômica do Brasil em aspectos mais variados.

Digo desastre porque os recursos desviados não têm o seu retorno aos cofres públicos com a mesma velocidade em que saem nem com o mesmo valor. O jornal O Estado de S. Paulo trouxe, em sua edição do domingo, 14, a reportagem “Brasil repatriou 1% do dinheiro de corruptos bloqueado no exterior”, que mostra o quanto é insignificante o percentual de recuperação dos recursos surrupiados. A reportagem menciona também algumas declarações do diretor do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), delegado Ricardo de Andrade Saadi, que não são nada animadoras.

Numa de suas declarações, Saadi diz que, dos processos existentes no Brasil, cujo valor do bloqueio abrange cerca de R$ 3 bilhões, apenas R$ 40 milhões foram repatriados. A reportagem destaca que o diretor não está “otimista” com o repatriamento dos recursos desviados, destaca também que o ex-executivo da Petrobras Paulo Roberto Costa tinha cinco contas em seu nome na Suíça, no valor de US$ 26 milhões, as quais, após a lama negra vir à tona, foram bloqueadas.

Esses agentes do governo que protagonizam esse episódio vergonhoso de desvio de recursos públicos são, na verdade, grandes traidores do Brasil. São-lhes confiados cargos de grande responsabilidade na administração do País, mas eles, em vez de tomarem caminho da lisura, da boa gestão, que é a sua obrigação, tomam o caminho viciado da corrupção.

Esses traidores do País nos levam à melhor definição sobre traição, dada pelo tribuno romano Marco Túlio Cícero mais de 2000 anos atrás: “Uma nação pode sobreviver aos idiotas e até aos gananciosos, mas não pode sobreviver à traição gerada dentro de si mesma. Um inimigo exterior não é tão perigoso, porque é conhecido e carrega suas bandeiras abertamente. Mas o traidor se move livremente dentro do governo…” Cícero diz mais sobre a prejudicialidade do traidor: “Trabalha em segredo e oculto da noite para demolir as fundações da nação, ele infecta o corpo político a tal ponto que este sucumbe”.

As palavras de Cícero foram ditas há 20 séculos, mas elas são muito atuais e se encaixam perfeitamente no momento em que vive a Nação, que, saqueada pela ganância dos seus traidores infiltrados na administração federal, está com seu “corpo político infectado”. No presente momento, estamos assistindo a uma série de revelações de escândalos envolvendo a Petrobrás; a cada dia, é mais uma notícia desastrosa sobre a empresa.

Além dos recursos desviados, que não retornam aos cofres públicos com o mesmo valor desviado, a corrupção também gera danos ao desempenho econômico do país, impedindo assim o seu crescimento econômico. E sem crescimento econômico, não há como elevar a renda per capita e assim oferecer melhores condições econômicas à população e consequentemente bem-estar social, não há como o país ser competitivo, oferecer uma infraestrutura de qualidade às empresas, que são as grandes engrenagens geradoras de riqueza do país.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em evento que celebrou o Dia Internacional contra a Corrupção, na terça-feira, 16, foi duro em crítica sobre a gestão da Petrobras, apontando nela, muito acertadamente, “um cenário desastroso”. Janot afirmou que “a resposta aos que assaltaram a Petrobras será firme”, ele também prometeu “não descansar” em seu propósito de dar uma resposta firme. Enquanto senador, estarei atento ao desenrolar desse episódio desastroso e também cobrarei uma punição penal e civil bem severa a essas pessoas por trás dessa trama diabólica, que está jogando a credibilidade do Brasil na lata de lixo, saqueando os cofres da Petrobras, que é a maior empresa do nosso país.