Artigo publicado no jornal Diário da Manhã — 25 de abril de 2014
Wilder Morais
Não há como se chegar a uma administração pública eficiente e transparente sem que o administrador tenha o planejamento estratégico como prioridade. O planejamento estratégico é a única rota gerencial a ser seguida, quando o administrador, verdadeiramente, busca a viabilização dos benefícios sociais que atendam, de forma satisfatória, a sociedade em suas necessidades, principalmente nas essenciais.
Dar o nome do ex-governador de Goiás Mauro Borges ao sistema produtor de água, o chamado Sistema João Leite — obra que envolve recursos do BNDES, Ministérios da Integração e das Cidades, Governo de Goiás e Saneago — foi um gesto muito acertado. O ex-governador foi um gestor que geriu o Estado com planejamento estratégico; foi ele, inclusive, quem deu início à modernização da administração pública e promoveu interferências do poder público no sentido de impulsionar a economia do Estado. Coisa que governo federal não tem promovido no país.
Chamo de “gesto muito acertado” essa nomeação pelo fato de que a construção do Sistema João Leite, em fase de conclusão, representa, portanto, uma ação governamental planejada do governo Marconi. Ação esta, vale ressaltar, de vital importância para Goiânia e cidades conurbadas, pois, na Barragem João Leite, que é uma parte do sistema, estão armazenados 129 milhões de metros cúbicos de água.
Água esta que assegurará abastecimento pelos próximos 40 anos aos 20 municípios que constituem a Região Metropolitana de Goiânia. E após esse longo período, o abastecimento da Região Metropolitana de Goiânia poderá ser buscado no Ribeirão Caldazinha. Já bem mais adiante, a alternativa de água será o Rio dos Bois. Nossas futuras gerações, com essas ações planejadas, terão abastecimento garantido. Outra vantagem de Goiás é que ele não tem nenhum conflito com outro estado por questão de água.
Agora, por exemplo, está havendo um confronto entre São Paulo e Rio de Janeiro relacionado a água. No centro do divergência, está o Rio Paraíba do Sul. Tal rio, cuja extensão é de 1.137 quilômetros e tem sua nascente em São Paulo, corta Minas Gerais e o Rio de Janeiro. Estado este que depende de suas águas para o abastecimento de 11 milhões de habitantes e junto a isso dependência de água para o setor industrial.
A polêmica teve início assim que o governador Geraldo Alckmin anunciou que quer buscar água no Paraíba do Sul, isso motivado pelos índices cada vez mais baixos do Sistema Cantareira — hoje operando com cerca de 14% de sua capacidade —, o qual é responsável pelo abastecimento da Grande São Paulo. Tão logo, o governador paulista se manifestou em seu Twitter sobre a utilização do rio — “O objetivo da interligação é conectar os reservatórios, aumentando a reservação e a segurança do abastecimento na macrometrópole.”—, o carioca deu resposta contestatória: “Mas já adianto: nada que prejudique o abastecimento das residências e das empresas do estado do RJ será autorizado”. O episódio fez com que, no Rio, fosse criada a Frente Parlamentar de Defesa da Bacia do Rio Paraíba do Sul, que, em ato em frente ao Palácio Tiradentes, se posicionou contra a transposição de águas do respectivo rio. Isso, portanto, evidencia o quanto o assunto “água” é conflitante nos dois estados.
E água, como bem sabemos, não é um produto supérfluo, é produto essencial à vida. E mais: é um bem finito, que deve ser cuidado com muito zelo, e, em se tratando do poder público este deve promover ações sustentáveis e estratégicas bem planejadas. Esse confronto evidencia que o problema de escassez de água em São Paulo precisa ser resolvido urgentemente, pois há milhões de pessoas envolvidas na questão. A sede dessas pessoas não pode esperar o fim desse embate jurídico entre os dois estados. As circunstâncias mostram que a Agência Nacional de Água deve entrar no conflito, no sentido de buscar uma solução de modo mais urgente, que contemple os interesses dos dois entes federativos.
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