Recursos hídricos exigem uma gestão racional

Artigo publicado no jornal Diário da Manhã — 20 de fevereiro de 2015

Wilder Morais

Água é um assunto muito sério. É um recurso natural finito. Sem ela, não há vida vegetal ou animal na Terra. Isso, portanto, mostra o quanto a água deve ser tratada com respeito, com parcimônia, visto que a nossa vida depende vitalmente dela.

E essa água destinada ao nosso consumo representa um percentual muito pequeno dentro de todo o volume que há na Terra, do qual 97% estão nos oceanos: água salgada. Os 3% restantes são água doce, que é a permitida para nosso consumo. Deste percentual, 2,4% estão nas geleiras e calotas polares, o restante, 0,6%, está nos rios, lagos e represas, que é a que consumimos.

Há um risco de escassez crônica de água doce na Terra. Vários países já enfrentam isso, alguns inclusive já estão recorrendo à técnica de dessalinização de água do mar, que é o caso, por exemplo, de Israel, Estados Unidos, Arábia Saudita, Reino Unido. Nos estados da Região Nordeste do Brasil, a dessalinização também já empregada, seja usando água salobra ou a do mar.

Enquanto essa escassez ronda o mundo, a população continua crescendo. E isso representa não apenas o aumento de torneiras, de mais descargas sanitárias e chuveiros nas casas. Inerente ao crescimento populacional está também necessidade de mais energia para mover todos os setores econômicos. Vale observar que, na produção de alimentos, não só é necessário energia para movimentar as máquinas industriais — aqui entram as hidrelétricas — como também é preciso uma substância preciosa, sem a qual é impossível produzir alimento: a água, a qual também propicia a navegação, a pesca e aquicultura e outras tantas atividades.

O Brasil, que é um país privilegiado em recursos hídricos (possui quase 14% de toda água doce da Terra), enfrenta agora, mais precisamente na Região Sudeste, uma crise hídrica de grandes proporções, atingindo também outros estados. A Agência Nacional de Águas divulgou levantamento, realizado a pedido do Globo, que mostra que a crise hídrica na Região Sudeste não atinge apenas os reservatórios de paulistas, mas também mais seis bacias hidrográficas brasileiras, o que reflete em nove estados e o Distrito Federal.

Essa crise que o Brasil enfrenta precisa servir de alerta e assim promover a mudança na forma da gestão da água. Essa crise é a oportunidade que as pessoas têm no sentido de se conscientizarem sobre os perigos dos desperdícios. É a oportunidade singular (e pode gerar danos sérios se não for aproveitada) que as indústrias têm para promoverem reuso de água. Esse esforço deve ser uma ação contínua, e ele deve contar com a presença das organizações da sociedade civil, dos veículos de comunicação e essencialmente do governo, visto que sobre seus ombros recai um carga maior de responsabilidade no que diz respeito à gestão da água.

A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) está realizando algo muito importante, que pode ser copiado por outras empresas de outros estados ligadas ao setor de saneamento: reciclagem de água, mais precisamente a que vem do tratamento de esgoto. Ela está sendo vendida às indústrias e utilizada em atividades secundárias. Cada mil litros dessa água é vendido por um preço médio de R$ 1,04.

Já preocupado com a escassez de água, apresentei no ano passado um projeto de lei no Senado, que obriga o governo federal a utilizar sistemas de aproveitamento de água de chuva nos novos prédios a serem construídos pela União a ser utilizada em atividades que não exijam o uso de água tratada, como descarga de banheiros, lavagem de chão, rega de jardim. Com essa crise hídrica ocorrida na Região Sudeste, resolvi alterar o meu projeto, de modo obrigar também os estados e municípios que realizem a construção de prédios em convênio com a União, desde que o volume maior de recurso seja procedente do governo federal.

Outra ação de grande importância que vejo para enfrentar a crise hídrica é a retomada da construção de reservatórios. Precisamos refletir seriamente se os impactos ambientais resultantes delas são mais danosos do que as pessoas abrirem a torneira de suas casas e não terem uma gota de água para fazer sua comida. Precisamos priorizar o que nos é essencial, o que nos é vital. Os reservatórios devem ser construídos com muita eficiência de engenharia, em todos os segmentos que a ciência abrange neste caso. Vale ressaltar que eles promovem vários efeitos positivos, cujo principal deles é o aumento do potencial de água potável e de recursos hídricos reservados. Este, sim, a meu ver, é o critério resultante dos reservatórios que deve prevalecer diante da crise hídrica que afeta o Brasil.

O governador Marconi fez muito bem ao construir a Barragem do Ribeirão João Leite, uma gigantesca caixa com 129 milhões de metros cúbicos de água. Ele mostrou sensibilidade social com a construção dessa obra, que garantirá água potável a Goiânia e cidades conurbadas pelos próximos 40 anos. E depois disso, Goiânia, cuja construção o fundador, Pedro Ludovico Teixeira, observou a riqueza hídrica do lugar, poderá buscar água no Ribeirão Caldazinha.

Em síntese, todos os entes da federação devem dar a sua parcela de colaboração nesse conjunto de esforços em favor da preservação da água. Foi nesse sentido que promovi alteração em meu projeto de lei, o qual espero que seja aprovado no Senado e tenha um trâmite de êxito: chegue à presidência da República e seja sancionado.